quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Capital Inicial resgata vitalidade e atitude em novo disco



A banda Capital Inicial acaba de lançar o disco “Saturno”. Sob a batuta do produtor David Corcos, o quarteto coloca na praça o seu 13º registro de estúdio.

Nesta empreitada, sabiamente, o Capital foge da zona de conforto que seria comemorar 30 anos de estrada com um álbum revisionista, que poderia ser gravado ao vivo ou no formato acústico. O lançamento de “Saturno” representa um belo drible no padrão mercadológico das gravadoras, que não perdem oportunidades de lucrar com efemérides; e também de alguns artistas veteranos (ou não tão veteranos assim), que ultimamente fazem das datas comemorativas o principal motivo para lançar material.

Com ótimas doses de distorções, arranjos encorpados e letras com climas de indignação e protesto, o Capin (apelido que a banda tem desde os tempos de Brasília) lança o seu melhor álbum de estúdio desde o visceral “Atrás dos Olhos”, de 1998. Neste disco, o grande triunfo do quarteto foi o resgate das referências literárias, cinematográficas e musicais que formataram a ideologia do grupo no começo de década de 1980. Resultado: músicas mais maduras nos aspectos textual e instrumental.

Engana-se que pensa que a balada “O Lado Escuro da Lua” é o cartão de visitas ideal para o disco. Apesar de literalmente sintetizar o espírito do surreal conceito por trás do disco “The Dark Side of The Moon”, do Pink Floyd, este primeiro single destoa do restante do álbum. Porém, comercialmente falando, a escolha foi certa porque, apesar de ter sido lançada há pouco tempo, a música já ocupa boas posições entre as mais tocadas das rádios de pop rock brasileiras. Ponto para a gravadora. No entanto, “Saturno” começa com a faixa “O bem, o mal e o indiferente”, que carrega uma sutil introdução de teclados e um sedutor riff de guitarra. O título é uma referência clara ao clássico do cinema “Western Spaguetti”, “O bom, o feio e o mau”, de Sergio Leone, enquanto a letra faz alusões ao livro “Cem Anos de Solidão”, de Gabriel Garcia Marquez – se for bem trabalhada, tem tudo para ser uma das músicas mais importantes da história da banda.

As músicas “Saquear Brasília”, “O Cristo Redentor” e “A Valsa do Inferno” são perfeitos retratos para o atual cenário político do Brasil, que insiste em jogar para debaixo do tapete toda a contravenção, o coronelismo, a propina e a desonestidade que impera no Planalto Central e se espalha pelas demais unidades federativas do país. “Toda unanimidade é burra”, já dizia Nelson Rodrigues… Vivemos sob um governo cuja aprovação popular beira a unanimidade e com estas músicas, o Capital Inicial mostra a coragem de vociferar contra os passos errados da classe dominante.

Por fim e não menos importante: O Capital será para sempre a banda que muita gente ama odiar. A capacidade que eles possuem de renovar o público sem necessariamente perder um grande número dos fãs de outrora, é uma realidade que incomoda muita gente. “Saturno” é um trabalho ousado, coeso e maduro. Com este álbum, o Capital Inicial dá uma sacudida neste enfadonho atual cenário do rock brasileiro. Que outras bandas, principalmente as da geração dos anos 80, sigam o exemplo e nos brindem com discos realmente inéditos e prazerosos de serem ouvidos. Oremos.



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