sábado, 14 de janeiro de 2012

Motorocker concedeu entrevista à ROCK BRIGADE



O Motorocker conversou com a ROCK BRIGADE, e falou sobre sua própria identidade, o que pensam, e a sua trajetória.


ROCK BRIGADE: Dia 5 de abril de 2011 obviamente é uma data memorável: abrir o show do Iron Maiden não é pra qualquer um! Quando souberam que iriam abrir pro Iron em Curitiba, qual foi a reação de vocês?

MARCELUS: Você gosta de Iron Maiden? Imagine você recebendo uma notícia dessas, é o que a gente sentiu. Quando soubemos, ficamos loucos, tomamos um porrete no dia! E o melhor de tudo foi os caras falarem bem de nós! Quando a gente foi passar o som, os gringos ficaram “meio assim”, mas quando tocamos a primeira música, os caras começaram a levantar pra ouvir, nós chamamos a atenção dos caras que estavam lá!


RB: Como tem sido o retorno do público depois deste show? Mudou muita coisa?

LUCIANO: Nós ganhamos em questão de respeito, você trabalha a vida inteira pra ter respeito.

MARCELUS: Nós acabamos tendo uma amplitude maior, teve muita gente ali que não conhecia e nos procurou depois. E abrir o show do Iron é uma coisa que te bota pra frente, que te dá credibilidade. Recebemos elogios dos gringos que estavam fazendo cara feia antes do show, o Ash que faz o Eddie chegou falando “Você sabe há quanto tempo não aparece uma banda dessas lá na Europa? Desde os anos 70! Vocês fazem uma coisa que ninguém mais faz!”

RB: Viver de música no Brasil, e principalmente de rock, não é fácil. O que motiva vocês a continuar na estrada?

JUAN: É que a gente não sabe fazer outra coisa! [Risos]

MARCELUS: Bom, isso é verdade também! Mas a gente podia ser saqueiro no porto de Paranaguá, podia compra um carrinho de pipoca, descarregar carga na beira da estrada, catar pinhão... [Risos]

LUCIANO: Uma coisa que motiva é o próprio público, cara, a gente vai a lugares que a gente menos espera. Nós estivemos em Fortaleza, Manaus, e achávamos que ninguém conhecia o nosso som, mas tinha muita gente cantando nossas músicas.

MARCELUS: O meu pai falava quando eu era criança: “Filho, trabalhe com uma coisa que você tenha prazer”, e eu acho que é isso, é exatamente o que a gente é. A gente canta, vive isso e faz com prazer, entende? Porque é tão sincero que a gente não se transveste de alguma coisa pra subir no palco, vive isso 24 horas por dia. É cansativo, é desgastante, mas também é muito bom e prazeroso!

RB: O Motorocker é uma banda com reconhecimento nacional muito grande, sempre com a agenda bem cheia, e shows que se esticam por todo o Brasil. Mas, além disso, existem planos de levar o “Rock Malária” pra gringa num futuro não muito distante?

MARCELUS: Tem. Mas por enquanto é segredo!

RB: E tiveram oportunidade de ir?

MARCELUS: A gente só não foi ainda porque não quis. Achamos que não estávamos preparados. No nosso caso, as músicas são em português e lá só falam inglês. Por mais que tenha um público brasileiro lá, nós sempre ficamos pensando “Vamos passar as nossas músicas pra inglês” e estamos nessa, entende? Nós fizemos tanto show no Brasil, que isso acabou ficando pra depois, só que é uma realidade bem próxima.
RB: Quais músicas estão em inglês?

MARCELUS: Já tá tudo mudado! O Rock Na Veia tá todo passado em inglês, Igreja Universal, entre outras!
RB: Aposto que cada show é uma história diferente, algumas mais insanas, e outras nem tanto. Desses anos todos de Motorocker, qual é a lembrança que mais traz risos até hoje?

JUAN: Teve uma vez que o Luciano acabou de fumar um cigarro lá no RS e nós estávamos numa roda de amigos. Quando ele jogou o cigarro, veio uma menina, catou a bituca e guardou. Nesse dia, o Silvera comprou uma faca e furou a mão quando foi tirar a faca do bolso. Daí, após secar o sangue, ele jogou o papel no chão e a menina veio novamente e catou o papel...
RB: Tava querendo clonar o Motorocker! [Risos]

LUCIANO: Teve um show em que o Marcelus deu uma camiseta toda suada, podre, pra um cara, e ele guardou o suor!

MARCELUS: Ele torceu o meu suor num vidro e simplesmente guardou!

JUAN: E em outro show, chegou esse mesmo cara com um amigo, e o amigo falou “Você não acredita o que esse cara fez!” O amigo contou essa história, que ele não queria contar! [Risos]

MARCELUS: Eu nem lembrava disso, era meio-dia, nós íamos tocar na praia e o piá de coturno, roupa preta e a minha camiseta que ele cortou, tudo isso naquele sol de rachar! Foi em Barra do Sul.

RB: Poderiam falar sobre as dificuldades que vocês encontraram e encontram por fazer um trabalho independente?

MARCELUS: Você só encontra dificuldade! [Risos] Hoje existe menos, a gente já está acostumado a passar por algumas coisas, entende? Então hoje é muito mais fácil. Nós já tivemos que comer mal, dormir mal... Um dia você fica num hotel podre, no outro um hotel 5 estrelas, é assim! Um dia na favela e outro... O rock é assim. Tem show que é lotado, show que você faz pra 100 pessoas, mas são fãs! Você tem que estar ali pra isso!

LUCIANO: Foda mesmo é a gente ter que dirigir a van na volta quando o motorista ficava bêbado! [Risos]

MARCELUS: Quando a gente ia de van o nosso motorista bebia, se urinava inteiro e a gente tinha que se virar. [Risos]

JUAN: Não foi uma, nem duas, e nem três vezes. Essa é uma boa história pra colocar! Tem lugares que você tem que se sacrificar pra levar o rock seja pra onde for, é uma das dificuldades.

THOMAS: No final das contas tudo vira motivo pra sarro! Você tem história!

RB: Como vocês se sentiram ao serem elogiados pelo próprio Manny Charlton, fundador e guitarrista do Nazareth, pelo cover da música Telegram, que segundo ele, foi “incrível”?

SILVIO: Você fica abobado, é um cara que fez história no rock, é um dos nossos ídolos, e de repente ele escuta o teu som, aquilo que deu trabalho e curtiu pra cacete. E colocou o cover da Telegram numa posição boa no CD, é a primeira do disco 1!

MARCELUS: As famosas ali eram Guns N’ Roses e Metallica que contribuíram, só que o projeto infelizmente foi embargado pelos integrantes do Nazareth, por deter algum direito sobre o nome da banda.

RB: Não chegou a ser lançado, então?

MARCELUS: Saiu a capa, saíram os dois discos, a colocação das músicas

SILVERA: Tá tudo na internet, mas o disco físico mesmo não saiu.

RB: O feito mais recente de vocês é com certeza a realização de um sonho. Eu falo da Cerveja Motorocker! A ideia surgiu de onde? Proposta da cervejaria ou vocês que correram atrás disso?

MARCELUS: Foi uma coisa sem querer! Nós tocamos em um bar em Contenda/PR que era da Wensky Beer, o fabricante de cerveja, e ele acabou gostando da banda e daí convidou pra tomar um chope lá na fábrica dele, mostrar a fábrica. Através da nossa produtora surgiu a oportunidade. “Vocês não querem fazer uma cerveja Motorocker?” e acabou rolando, a cerveja virou um sucesso, tá vendendo bastante e, cara, a cerveja é ótima!

RB: Eu ainda não tomei a cerveja, só tomei o chope da cervejaria no dia de estreia...

MARCELUS: O chope é bom demais, né, cara?!

RB: Muito bom, mesmo.

LUCIANO: O chope era da mesma que a nossa!

RB: No show de estréia da Cerveja Motorocker, a banda deixou claro o seu patriotismo, falando com orgulho de onde a cerveja é produzida (PR). Não é muito comum vermos brasileiros demonstrando tanto patriotismo. Ao apoiar essa causa, vocês acreditam que os fãs da banda passem a dar mais valor ao próprio país e principalmente, ao que vem daqui?

TODOS: Sem dúvida, com certeza.

RB: É uma coisa que vocês fazem pensando na consequência?
MARCELUS: Não, a gente simplesmente é assim, pensa assim. Eu estava conversando com o Fabiano do Krucipha, quanta coisa boa a gente tem do lado de casa, e fica com esse negócio de lá de fora, sabe? Nada contra as bandas de fora, são maravilhosas! Elas influenciaram o que a gente faz, não tem o que falar. O nosso som não é brasileiro, não existe isso, é uma coisa que veio da Europa com uma mistura do blues dos Estados Unidos, só que é uma questão de ter que valorizar o que é feito aqui e a própria cultura.

RB: É como nós conversamos antes, isso gira bem em torno dessa questão de valorizar o que é daqui e feito aqui. E apoiar, mas infelizmente não vemos muito esse hábito nos brasileiros...

MARCELUS: Eu acho que toda pessoa que se bitola a alguma coisa está condenada ao fracasso. Nada deve te impedir de escutar o que você quiser e a hora que você quiser, mas cara, não deixe de ouvir as bandas que estão perto de você, de repente tem um milagre do lado da tua casa e não sabe! De repente a banda que você mais vai gostar, que mais vai te influenciar está do lado da tua casa! Porque não?! “Ah, porque é meu vizinho...” Ah, pau no seu! Faz de conta lá que o cara é diferente, um alienígena! Que peida mais cheiroso que a gente! Valorize a cultura local, independente do segmento cultural que seja, não tem por que não vestir a camisa do Brasil, o nosso país é cheio de mulheres lindas, praia pra cacete, comida da boa e da melhor, o melhor futebol do mundo, os melhores lutadores de MMA do mundo, e eu digo, as melhores bandas de rock do futuro estão aqui. O que eu tenho pra não querer apoiar isso tudo?!

RB: Para finalizar, qual é o conselho do Motorocker para as bandas que lutam no underground?

SILVERA: Tem que continuar, estudar, escutar bandas boas, independente que seja de fora ou não. Se tiver que investir, invista seu tempo, seu dinheiro. Quem faz uma faculdade, um doutorado, estuda a vida inteira pra isso, e a música é a mesma coisa.

MARCELUS: Eu vou um pouco mais longe do que o Silvera falou, foi o que a gente fez e as coisas começaram a dar certo pra gente. Quando você ta começando, muitas vezes tem pessoas que tem um pouco de inveja de você, te menosprezam dizendo “Isso aqui não é bom”. Cara, você tem que virar as costas pra TUDO e pra TODOS, e faça o teu trabalho. Não ouça opinião de coisas que você não tem projeção, entende? Faça o teu trabalho, acredite nele! Muitas vezes a coisa tá indo bem e o cara fala assim: “Isso aqui tá uma bosta!”, e pode ser maravilhoso, mas aquele cara é um “Zé”! Um Zé Mané que é um nada, um grão que não existe! A nossa banda era assim, era tanta gente dando pitaco quando lançávamos uma música e a gente se importava com isso. Não se importe! A I.U.R.R é um álbum que tem músicas desde o final dos anos 80! Acredita e vai! VAI
!



Fonte: http://www.motorocker.com.br/News.aspx
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